28/09/2008

será Vulto?

Nada vago
tudo em voga
Sua voz roça
minha tez

Calado açoite

de cálida fonte
molha um olho

outro esconde

te gosto mesmo
sem as idéias,
lógica à esmo

parada em aldeias

enfim, um fim
se lá ou cá
dúvida sempre
se algo de mim

14/09/2008

escrita

"Diferentemente da fala, a escrita é significado que se libertou de sua fonte."
(Terry Eagleton)

HIATUS IRRATIONALIS




De J.Lacan

Coisas, que corram em vós o suor ou a seiva,
Formas, que nascidas sejam da forja ou do sangue,
Vossa torrente não é mais densa que meu sonho;
E, se não os oprimo com um desejo incessante,

Atravesso vossa água, desabo na areia,
onde me atrai o peso do meu demônio pensante.
Só, ele bate no duro chão onde o ser se eleva,
Ao mal cego e surdo, ao deus privado de sentido.

Mas, assim que perece todo verbo na minha garganta,
Coisas, que nascidas sejam do sangue ou da forja,
Natureza, eu me perco no fluxo de um elemento:

Este que aninha em mim, o mesmo vos subleva,
Formas, que corram em vós o suor ou a seiva,
é o fogo que me faz vosso imortal amante.

13/09/2008

Caso de faculdade


Conheceram-se na faculdade de Letras. Já não lembravam ao certo como se apresentaram, mas parece que em ambas versões aparecia como pretexto um trabalho solicitado na disciplina de Comunicação Intermitente. A professora dessa matéria electiva solicitou aos alunos que escolhessem um interlocutor em sala e com ele trocasse, durante um semestre, algumas cartas cuja temática seria eleita por ambos. Assim, talvez porque sentavam próximos, escolheram-se.

Nas primeiras missivas deixaram com que os assuntos bailassem por campos variados de conhecimentos, preferências, numa verborragia sobre o óbvio. Com o passar do tempo, as cartas foram se modelando como uma massa de argila que vai tomando forma conforme o tato, a umidade e intensidade das mãos que a toca.

Eles não perceberam que sorrateiramente terrenos obscuros escancaravam-se nas letras. Uma série de símbolos resultavam em frases reveladoras à mão, ao corpo e alma do escriba.

O interessante é que a comunicação verbal entre ambos parecia não se beneficiar do conteúdo das cartas; aqueles dois se utilizaram um do outro para dar vida a personagens romanescos confinados ao papel.

Passados meses de intensos solilóquios, juntaram parte do material, entregaram os escritos e continuaram sentados próximos um ao outro sem jamais se apresentarem pra além da liquidez da letra.
Entre uma literal entrega e uma entrega literária, preferiram a segunda.

12/09/2008

trecho de Helena

de Machado de Assis

"O melhor modo de viver em paz é nutrir o amor-próprio dos outros com pedaços do nosso."