27/06/2007


Não há mais gênios na atualidade porque existe a indústria farmacêutica com seus psicofármacos.
Beethoven estava surdo quando compôs a 9a. sinfonia e também considerado totalmente louco por se apresentar rústico, excêntrico, arrogante, "sem qualidade de vida". Seu mundo relacional era caótico e esse caos só encontrava escoamento na música. Era divina sua imensa sensibilidade para transformar sensações e sutis percepções em linguagem musical.
Ele dizia não ser possível ver Deus, apenas ouvi-lo através da música.
E como já cantou Raul: "E pra aquele que me provar que estou mentindo, eu tiro o meu chapéu".
São inúmeros os caminhos a R O M A.





25/06/2007

Em tempo

Li uma notícia de que cinco jovens teriam agredido uma empregada doméstica às cinco da manhã, num ponto de ônibus, pensando se tratar de uma "vagabunda". Foi essa a "justificativa" dos meninos que têm em média 20 anos, moram em bairros nobres do RJ e levam uma vida, aparentemente, "normal".

A notícia deixa a sugestão que os "bad boys" teriam saído de uma rave e talvez estivessem alcoolizados o suficiente para que não possam responder responsavelmente pelo ocorrido. Ora, a bebida alccolica não cria nada, ela pode apenas rebaixar a crítica ou o auto-controle para que o que está latente encontre saída. Portanto o alcool nada cria de novo no psiquismo, somente "procria" o que fica guardado em compartimentos secretos. [A mesma construção de raciocínio poderia ser usada para pensarmos a TPM, apesar de se tratar de outro tipo de fenômeno, mas isso é papo pra outro post...]

É importante encontrarmos um lugar de pertencimento, de acolhida, de companheirismo e cumplicidade, tal qual esses jovens encontraram em seu meio. É bom termos amigos passionais... mas a cumplicidade do grupo em questão se revelou frágil ao serem confrontados com o resultado de seus atos. O primeiro moço encontrado pela polícia já delatou todos os outros. Abrem-se perguntas: Pra que "serve" um amigo? Até que ponto um amigo pode ser visto como cúmplice de algo que alguém decide fazer?

A construção de posicionamento responsável diante do outro, traduz-se num processo pra uma vida inteira. Esses jovens parecem estar há anos luz de distinguirem um outro que não seja a própria fantasia que se interpõe inevitavelmente ao se "ler" uma outra pessoa. O ocorrido com a moça no ponto de ônibus, delata uma fantasia da divisão clássica entre a "mulher santa e a puta", uma divisão que começa na infância do psiquismo masculino, que se preserva em imagens totais, e as vezes não encontra um desfecho favorável pro resto da vida.

Parece que os meninos justificaram o ato como: "desculpa aí, pensei que fosse uma vagabunda, não sabia se tratar de uma mulher que estava no ponto de ônibus pra ir no médico, porque, se fosse a prostituta, tudo se esclareceria, não?" Pra mim isso ainda choca! E sempre chocará porque não se trata de algo que se deve "acostumar", ainda que vigore dentro da "norma", do que há de comum na cultura vigente.

Será que alguma das gerações futuras poderá lidar melhor com essa cisão no afeto? Paralelamente existe uma quantidade significativa de mulher que veste um desses personagens na vida pública (e privada), reforçando essa fantasia purista da "santa" ou da "puta". Ninguém É santa ou puta, bandido ou herói, mas há quem se descreva e se posicione dentro de alguma dessas categorias maniqueístas, pra tentar se fazer reconhecer e respeitar, amar, pelo outro.

O imbróglio está posto: a camisa-de-força da famigerada "normalidade" privilegia certas ações (ou ações certas), esconde motivações e vela intensões que se constroem dentro das famílias, primeira célula social. É evidente que não funciona o "termômetro de sucesso" do ocidente que se norteia pelo êxito profissional e financeiro, entre posses, poses e rendas. Tudo que é visto como normal é apenas um constructo cultural em que a maioria está de acordo. É só isso. Antes desse ato bárbaro praticado por esses jovens, eles eram moços portadores de preconceitos (conceitos previamente engolidos e não mastigados) existentes em seus frágeis psiquismos "normais".

Mas creio num tempo futuro, no qual a honestidade possa, acima da verdade, vigorar nas relações a fim de lidarmos com o que produzimos, seja lá o que for, como disse Renato Russo: "não adianta querer mudar o mundo, temos que mudar a gente".

24/06/2007

do meu gosto




gosto de gente que tem gosto de gente
gente que tem gosto também traz desgosto
mas deixa um gosto de rosto que ninguém tem.

16/06/2007

Tributo ao Aparelho de Poesia

Pra quem não sabe, o Aparelho de Poesia é um evento que acontece todo mês no Caleidos Arte & Ensino. O Fábio elege um tema e sai fazendo uma pesquisa ampla que termina em leituras singulares compartilhadas. O poema abaixo estava inscrito no último evento... A propósito, o último Aparelho teve como tema "Sexy, Erótico e Pornô". Por ser um tema ousado, embora muito "usado", a presença foi baixa... Passados muitos anos desde o desvelamento dos segredos da sexualidade humana por Freud, parece que o tema ainda é tabu... infelizmente.

TESES
(de Paulo Leminsky)

eu
isóceles
você
ângulo
hipóteses
sobre meu tesão

teses
sínteses
antíteses
vê bem onde pisas
pode ser meu coração

15/06/2007

Mário Quintana

"sempre me senti isolado nessas reuniões sociais: o excesso de gente impede de ver as pessoas"

ser ia

Seria a fala algo palpável?
Seria se o corpo for inflamável
Seria o amor algo rentável?
Sério não sei se seria

11/06/2007

vazamento

Há algum tempo ouviam aquele barulho vindo do banheiro, um gotejar incessante, daqueles barulhos que, se não se toma cuidado, acaba acostumando os ouvidos. Era só pintar um silêncio mais prolongado que o barulho entrava em evidência.
Outro indicador era a conta da água, cada mês mais alta. Vazamentos não cuidados geram custos desnecessários e permanentes.
Ele tomou a iniciativa para abordar a questão:
_ Tá ouvindo?
_ Tá ouvindo o quê?
_ Esse gotejar que não pára! Barulho irritante!
_ Não tô ouvindo nada...
Ela sustentava a fantasia de que, enquanto não admitisse o barulho frente a ele, pudessem fazer de conta que o mesmo não existia. E estava funcionando bem! Colocavam música, ligavam a TV, permaneciam horas frente ao computador sem que as teclas deixassem de serem apertadas, falavam ao telefone, enfim ia tudo “muito bem”, até ele tocar naquele assunto.
_ Vou chamar um encanador – insistiu ele.
Ela se fingia de morta. Ele acreditava que ela estivesse mesmo, morta.
_ Já sei – disse ele - é só sairmos várias vezes de casa e nunca mais teremos tempo de ouvir o tal barulho.
E assim fizeram. Até começarem a ouvir o gotejar no cinema, no teatro, no barzinho...

tu

Sinto tremores. Olhos fixos. Os meus nos seus. Meu campo visual se restringe. Confusão. Entorno barulho. Tambores estouram. Dentro. Não sustento o olhar. Desvio. Você me procura. Você me convida quando sorri. Eu fico. E me deixo. Você me leva sem sairmos do lugar. Não quero saber onde. Soam sirenes, você está em todos os seus pedaços. Despedaço. Palavras não dão conta. Insistimos. Fala. Falo. Bebo. Bebe. Corpos misturados. Não queremos que acabe. Não sabemos continuar. Despeço. Vou dormir. Seu olhar me dorme na vigília.

tez

Tecido o amor
Em teia do humor
Ateia a tez

Humor só com amor
Amor só com humor

O humor e o amor
Deram-se as mãos
Pegam-se em mãos
Brincam e brigam
Reconstroem a ilusão.

Os Incríveis e a Psicanálise

Li o texto da Maria Helena Fernandes sobre as complicações da mulher moderna na tentativa dos ajustes dos ideais na administração da vida, entitulado "A Mulher- Elástico". Penso que, além dos ideais enaltecidos pela cultura ocidental, tal qual o ideal de corpo magro citado, cada fragmento da cultura – grupos de pertencimento - privilegia alguns aspectos de manifestação ideal. Inevitavelmente assistimos ao filme no final de semana com as crianças e o evento se torna um meio propício pra discussões infindáveis, tal como Maria Helena citou. Sem cair no ridículo do maçante, pra não “matar a obra”, a linguagem dos filmes da Pixar parece evocar estímulos em níveis variados para a conversa em casa.

No filme Os Incríveis, são retratadas as várias crises que podem coabitar uma mesma constelação familiar. Cada um dos personagens foi descrito em sua peculiaridade psíquica e inter-relacional. É interessante observar como se estrutura a corrente com cada um dos elos que compõem essa cadeia familiar. A mudança de um dos membros – O Sr. Incrível – deflagra a necessidade de mudança sentida por todo o grupo. É incrível como tendemos a um estado de morbidez quando nos afastamos do que essencialmente compõe nosso desejo. As relações ficam “gastas”, o cotidiano se revela com peso e o brilho da vida fica confinado à obscuridade, como sinônimo de contravenção.

È interessante notar no filme, que a Mulher-elástico parece ser a primeira a “se adaptar” às solicitações da vida comum – e nem por isso menos importante – do trato com os filhos, da arrumação da casa, da necessidade da receita regular de quem provê o lar, da comida, do carinho, da constância. No entanto, assim que se torna explícita uma nova configuração, lá está ela antenada buscando uma interlocução que a confronte, ilustrada no filme através da intervenção da estilista “bageriana”. Faz as malas, carrega os filhos “sem perceber” a fim de lidar com a nova configuração.

Em posse do lugar elástico que a define, percebe que a autonomia da filha esteve prejudicada uma vez que a menina invisível não se encontrava em posse de suas habilidades, talvez à espera que a mãe retire a “mulher elástico” do armário, em busca de um modelo outro de identificação, que não o “puramente” materno.

É certo, como ressaltou a Maria Helena em seu texto, que a mulher moderna esteja se sentindo perdida em culpa na falta de cumprimento da rota de seus inúmeros anseios e demandas do meio. Mas talvez, por enquanto, ainda não esteja muito clara ao universo cultural masculino, a necessidade de exercitar a flexibilidade em detrimento da força ressaltada em todos os tempos. A mulher moderna deve ter força e flexibilidade, e o homem moderno?
As próximas gerações talvez nos respondam, ou talvez elaborem outras perguntas.

07/06/2007

enquanto isso, na natureza...

Não sei se assisti num filme ou li na Veja essa observação: Há uma espécie de pássaro que emite um lindo canto quando se motiva pela dança do acasalamento. A fêmea da espécie se aproxima afetada e emite algumas notas em concordância para que o encontro seja possível. A troca de canto se perpetua em simultânea aproximação física. No entanto, os especialistas observaram que, por alguma razão desconhecida, o macho estanca seus movimentos de aproximação e continua emitindo os sons concordantes, como se encantado da própria voz. A fêmea mantém o canto e o esforço na direção de encontro do macho na mata. Os pesquisadores notaram que algumas fêmeas localizam os machos da espécie e outras os perdem de vista, camuflados entre os próprios galhos.

05/06/2007

news

Foi um tempo
ar parado
idéias revoltas
ato cansado

Ares em luta
ato em arco
idéia resulta
passado enterrado

02/06/2007

:

Palavras amorosas nunca se atrelam à injúria da verdade, mas há que se erradicar no amor a falta de honestidade.

!

Curioso: O curió só cuidou de si quando só se viu.