13/03/2012

Retrato

Por Adriane L.Machado
"OS PAPAGAIOS VOARAM...
EXIBEM SUAS CORES EXUBERANTES EM OUTROS TERREIROS
PENSOU: QUAL A SERVENTIA DAS GAIOLAS? 
HÁ ALPISTE, JORNAL PRA DEFECAR, 
E O QUE MAIS?
ENCLAUSURAMENTO POSTO, NUMA PROMESSA DE LIBERDADE ASSISTIDA
"SOBREVOAM A CABEÇA DO FOTÓGRAFO"
PAPAGAIOS TOLOS! ENGANAM-SE
PAPAGAIOS ERRANTES! PERDEM-SE
PAPAGAIOS...
ALGUMAS AVES NÃO SABEM DISTINGUIR UMA ÁRVORE TAMOROMU DE UMA GAIOLA"


29/02/2012

Minhocas têm virilha



Me perco no outro e me encontro de outro... jeito, de outra feita, feita No outro.
O outro me desfaz. E é inevitável um certo grau de dependência pra essa feitura. Mútua.
As vezes evitável. Com conhecimento de si: legenda. Sem honestidade pra consigo: desfeito.
E o limite da língua traduz a dureza do corte. Lugar fecundo de loucura outrora, contemplação de falta de sentido agora: "vício" em quebra de Elo? 
A humanidade é covarde... e como já disse Nietzsche: relação amorosa se Faz através de uma decisão.
De-cisão?  
Não.... sem hífen!

12/12/2011

no que me pauto...

Minha vida é movimento. Feito uma pauta musical com linhas e espaços... espaço é necessários para que haja linha. Diariamente as notas surgem nas linhas e nos espaços, no acorde que vivo.
Vez por outra, faço uso de linhas ou espaços suplementares... As cinco linhas e os quatro espaços não podem acomodar todas as notas que sinto.
Vim com uma clave de sol e uma de fá na alma, mas sou mais afeita às notas mais agudas. Sempre aposto que seja esta a melhor parceria para compor a música da vida: clave de Sol e clave de Fá, com o Dó no meio. O Dó no meio me lembra que um tanto de compaixão é necessária para uma composição mais fidedigna da vida. Com mais sentido: sentido de direção, sentido vindo dos órgãos criando a direção, o sentido pra onde a vida caminha.

14/11/2011



O im(?)possível COM:
(elemento que significa ligação)

Con-viver
Con-versar
Con-tato

Com-paixão
com-bino
com-bato

com memória
comemoro
com-paro

com-parsa
com-partilho
com-passo

com-penetrada
com-penso
com-placência

com-pressa
com-prometo
com-um

com-unico
con-cedo
con-centro

con-certo
con-serta
con-corda...

Con-corda?

09/01/2011

EDénico

Eram orgulhosos das próprias defesas que os afastavam do mundo sensível. 
Encontram-se à tempo de Editar as cenas do filme antigo.
Mudança de sequência que altera o enredo.
Enredaram-se, por-tanto...

24/09/2010

excerto

Eles jogaram o bebê fora e cultivaram a placenta, sob a esperança de que dela surgisse algo.... desconheciam que o movimento que havia  nela, era o deles.
Mas uma placenta sem bebê, sem vida,  não tem sentido.
Foi para o lixo depois de alguns dias.

Não!

por Marcio Zurga e Elaine


Não me pese!
calibre de carne ou moral

Não me meça!
conforme seu teatro

Não me avalie!
parâmetros arbitrários

Não me pise!

Não pose!

01/06/2010

seara

(ceifado do Chico)

O que será que me dá?
Será que me dá?
O que será que será?
Será que será?

13/04/2010

por Fabrício Carpinejar

"O homem traduz a mulher a partir da língua em que ela não foi escrita"

:

Criamos uma instituição, à moda do "Projeto Cocoon", que se chama:

casa de IDéias

Estamos promovendo um encontro: http://www.espelhodemedusa.blogspot.com/
Vai ser bem bom!!!

09/04/2010

lugar

na prática
a ética
é plástica
que volve situa
envolve atua
deprime afirma
confirma
um pórtico
não pático
nem plástico
que quebra

craquela
resseca.

desmonta
um algo

em guarda.

08/04/2010

EU


Redator de algo em mim, editor de coisas minhas.
Confessa ou nega o que passa em mim.
Permite e impede tudo que representa vida.
EU impotente; EU unipresente. EU reticente...

Eu quase sempre estou, as vezes Sou.


01/04/2010

...

Se a boca fala
e a língua cala
um zelo não se entalha
no cerne da malha

O corpo empalha
e a alma encalha
no fio da navalha.

29/03/2010

!


FALA-ME
De um ângulo antes nunca posto
IMPRESSA-ME
No corpo o alento do seu gosto
CONDUZA-ME
Ao segredo que sob seu manto
TRADUZ-ME
Em algo que sem ti
Não Encontro

12/03/2010

O ÁUGURE

(por Hélio Pellegrino)

Sou um prisma
às avessas
as cores em mim
se confundem

sou um tapete de ecos
uma cachoeira de gritos
uma cordoalha de muitos tempos

A esfera de lantejoulas
- passado presente futuro -
roda refletindo mil sóis

Sou essa colméia de incêndios
essa assembléia de sinais
esse rumor insone

05/03/2010

CERTA SETA

(a 4 mãos: por Elaine e Fábio Brazil)


Caminhei
não sei ao certo por onde
e certo não sabia
chegar aqui.

Incerto saber se saí.

Na certa caminhei...
Desconheço-me nos mitos antigos
e estou certa de encontrar
a mim mais próxima do início.

Paro um instante :
é certeza encontrar um veio de estrada
no meio da selva.

Seta certa. Sigo meu rumo.
Cega à frente das certezas.
Arco de dúvidas

certa-mente.

03/03/2010

som

"A música clássica do amor é em tom maior, a romântica em tom menor."

Paul McCartney

25/02/2010

Deus me livre dos Verdadeiros!

Existe gente mais engenhosa que os ditos "Verdadeiros"? Profissionais nada liberais que se coadunam numa só pessoa:
São autênticos performáticos de suas "verdades" tão queridas, desenvolvem o enredo e convocam qual-quer outro (não um outro qualquer) para participar como coadjuvante de seu próprio melodrama;
São cenógrafos experientes que arranjam o cenário Ideal para desenvolverem sua cena;
São soldados camuflados pela guerra em que vivem;
São gerenciadores perspicazes da conduta do outro, agindo sob a falta de conhecimento do que motiva as próprias ações.

Não choram, não pedem desculpas, não se enganam, não se atolam, não se enroscam: a cena pra ser vivida está sempre pronta e caem numa repetição sem fim;
Exigem lealdade, cumplicidade, disponibilidade e tolerância que não entregam como devolutiva;
Agarram-se em relações superficiais e tecem uma malha relacional esgarçada, uma vez que sustenta o peso da Verdade que carregam;
As histórias de vida dos outros viram objeto bélico em suas mãos.
Verdadeiros jamais são honestos, nunca estão onde sinalizaram estar.
Amam um roteiro a ser seguido, invariavelmente.
O outro? o outro é só papel...

20/06/2009

pequeno empréstimo:

"... com a insistência da vida em não seguir roteiros"
(Sérgio Dávila)

18/06/2009

silêncio

complacente
conivente
estridente
entre dentes

comovente
displicente
contundente

simpático
empático
enigmático

gentil
hostil
frio

por M.C. Escher




"Ficar pasmado com algo é ter consciência de uma
maravilha!"

31/05/2009

olhos que sorriem

pequenas coisas não são

coisas pequenas

pequenos gestos

Eternos

temer os termos

afasta o terno

Detemos

meios de termos

modos

24/05/2009

trânsito

Deixa!
Fica!
Foda-se!
Perca-se!
O amor está no verbo ou na exclamação?

20/01/2009

?

A arte é a manifestação do que outrora existia sem matéria.

Há pessoas que topam colocar em movimento a flexibilidade do campo imaginativo.
Inventam, reconstroem sob o risco de serem taxadas de destrutivas, salientam passagens secretas para desfrutes inimagináveis.

Há pessoas que preferem contemplar quem faça isso. Podem instigar no outro o princípio do movimento descrito acima , mas preferem manter os glúteos fixos num só lugar, como expectadores.

Há pessoas que nem reconhecem o fenômeno. Elas conservam os órgãos do sentido tão rígidos que somente validam objetos e eventos antigos, legendados.

Há tantas dessas pessoas em mim que mal posso me ver.

14/12/2008

Vicky Cristina Barcelona

Nunca fui muito fã de Woody Allen. Seu estilo altamente verborrágico costuma me cansar. Demanda demais do raciocínio, esgota sinapses velhas e as novas que surgem diante de sua obra, são logo engolfadas pelas "explicações" psicologizantes no enredo. Mas gosto de alguns de seus filmes, quando ele consegue explorar outros modos relacionais que não as repetições habituais de sua auto-biografia. Foi assim que me senti diante do Vicky... no qual explora algumas possibilidades de Eros se fazer presente, seja por sua negação, seja pelo desespero, seja pela sua fugaz aparição que sempre nos deixa a sensação de que "falta algo". Mesmo quando não falta parece que, ainda assim, a insatisfação diante do "perfeito" prossegue. Quando o triângulo se estabiliza, o ideal romântico se impõe, ilustrado no filme pela "verdade" seguida à risca por Cristina: "Ela não sabia o que queria, mas sabia o que não queria". Esse filme retrata um tanto a emboscada da perfeição amorosa, denunciada por Jurandir Freire no livro "Sem Fraude, Nem Favor - Estudos sobre o Amor Romântico", no qual busca as origens históricas desse engodo em nossa cultura.
Há filmes que retratam; há os que remetem. Woody Allen retrata, conversa. Outras obras de outros autores e diretores me pegam pelas vísceras, sem me perguntarem nada. Prefiro estes.

Borges

“A certeza de que tudo já foi escrito nos anula, ou nos fantasmagoriza”.

02/12/2008

linguagem

"... é aquilo que se faz com o que se fala"
(Renata Cromberg)

15/11/2008

descompasso

Ana amava Pedro.
Pedro amava Pedro

pelo olhar de Ana.
Ana deixou a pedra.
Ana amava Marco
.
Marco amava Telma.
Telma amava Telma

pelo olhar de Marco.
Marco deixara Telma
Marco amava um marco.
Pedro, Mari-Ana.
Ana passou a amar Ana

pelo olhar de quem Ama.

01/11/2008

conceito


Li dois livro do Gabriel Gárcia Márquez, mas parece que comecei com esse autor pela porta dos fundos... Li o Memória de minhas putas tristes e o Viver pra contar - não sei se é esse o nome correto, é aquele... o auto-biográfico. Gostei, mas não me apaixonei. E ficava pensando: o que o povo viu que eu não vi nesse autor? Assim sendo, deixei de lado a idéia de ler o Cem Anos... e O amor nos tempos do cólera... Até ontem, quando vi o filme sobre esse último livro. Lindo! Apaixonante!

Me fez lembrar de uma amiga que estuda Merleau Ponty que defende a idéia de que a obra é maior que o autor. "O que" ou "como" Gabriel escolheu para contar de sua vida nos dois únicos livros que li, quase me afastaram por completo de me aproximar do melhor que ele fez.

O pior é que não é nem pre-conceito, foi caso de conceito errôneo mesmo. Peguei uma parte e lidei como se fosse o todo.

Mas... o filme salvou os livros.

20/10/2008


Era uma vez um menino muito comilão. Em restaurantes, por exemplo, ficava tão confuso frente a imensa variedade oferecida no cardápio que cansava de ler e pedia que o acompanhante escolhesse por ele. Tão glutão que comendo macarrão pensava no frango e se flagrava prestando atenção no cheiro do vatapá da mesa ao lado.

Nenhuma roupa lhe caía bem... o menino ficava triste pois a menina que ele gostava estava afastada dele, movimento este que ele passou a chamar de "o momento dela". Ele não tinha percebido que sempre que estava ao lado da menina, sua dispersão continuava, pois seus pensamentos vagavam pelas comidas ingeridas e pelas não provadas ainda.

A mãe levou o menino ao médico. O médico prescreveu um cardápio e um regime. O menino teria que descobrir outras fontes de satisfação que não a comida. Caminho difícil... imposto radicalmente. O que fazer?

Com uma vigilância permanente sobre o que colocaria na boca, o menino passou a ilusionar que comia. Da ilusão, passou à fantasia. Fantasiava fartas ceias, exuberantes almoços, repletos de apetitosas sobremesas. Transcorrido algum tempo, passou a se alimentar de sonhos. Dormia boa parte do tempo e sonhava.... com o pudim, com a cesta de pães, com o sorvete, com o fast food...

Pobre menino! A mãe e o médico estavam satisfeitos com o "sucesso" do tratamento. O menino perdia peso. Como a mãe só permitia que ele dormisse de olhos fechados à noite, o menino passou a fingir que estava acordado. Virou um sujeito ligado no automático, deixando o corpo no lugar onde colocavam, o pensamento na vilância dos atos, mas o sentimento capturado na comida, ou em sua fonte.

O fenômeno foi tomando uma proporção tamanha que o menino passou a se recusar a comer. Sempre que estava próximo a uma comida que lhe parecia apetitosa, mantinha-a distante para preferir imaginar o sabor, a consistência, o aroma...

Isolado em seu mundo entricheirado por comida, o menino automatizado só se deixava alimentar pela mãe sob a crença de que ela sabia o que era melhor para ele. Mas quando o menino ousava experimentar outro sabor, daqueles que tinha sonhado, sentia-se tão culpado que dava um jeito da mãe saber para que ralhasse com ele. Expiava sua culpa assim.

Assim passaram-se os meses, os anos, as décadas...Mudou de escola, de cidade, de país. No final da adolescência começou a cursar medicina. Especializou-se em cirurgia plástica e com o crescimento e mudanças hormonais, nem se deu conta que trocou a imagem do pensamento: da comida para mulheres. Perseverante em seu modo automático, provava algumas namoradas, servindo-as gentilmente a fim de tentar compensar o automatismo.


Automatismo ou continuísmo? Não é que o menino não tinha vontade própria. Tinha sim! Mas ficou tão acostumado a camuflar seus desejos que a voz própria lhe faltava à boca. Num vislumbre do núcleo de seus sentimentos e palavras emprestadas do invólucro de seus pensamentos, uma vez pronunciou: "Sou como um bulímico, como, como, como e digo que foi a comida que pulou na minha boca." Que baita confusão o menino se fazia!

Infenso à honestidade, o menino era farto em verdades.Desenvolveu o recurso da sedução para fazer-de-conta que construía elos afetivos. A "comida", que porventura lhe pulasse à boca, era mastigada, engulida ou cuspida, nunca saboreada.

Nunca conheci esse menino; ele nunca me viu. Soube da existência dele por livros, filmes e histórias. Mas já viu... quem conta um conto....