23/07/2007

efeito Elsa & Fred



Assisti o filme Elsa & Fred há alguns dias. Hesitei várias vezes antes de me decidir por pegar esse filme na locadora, aparentemente se tratava de mais uma comédia "água com açucar". Ledo engano. Conta a história de uma senhorinha muito simpática que leva às últimas consequências a idéia de vida, sapiente de sua condição de morte próxima. Elsa conhece Fred, um viúvo que se muda para o apartamento em frente ao seu. Fred está deprimido pela perda da esposa há poucos meses.
Elsa propõe lentamente que se conheçam e logo começa sugerir aventuras que possam vivenciar juntos.
Fred a chama de louca e, apesar de sinalizar toda a dificuldade em sair do estilo de vida cultivado como certo e saudável, começa a se permitir viver situações inusitadas em sua vida até então "certa demais"... um tanto monótona e desprovida de sentido fora da sensação de "dever cumprido".
Inevitavelmente pensei na maioria das relações conjugais que conheço. Relações "seguras", de continuidade garantida sob a certeza de permanência do outro, "por e apesar" de qualquer eventualidade. Relações "certas", "direitas", postas. Nenhum dos envolvidos precisa se esforçar por fazer acontecer nada de diferente ou por comunicar regularmente no quê o outro lhe é instigante, curioso.... É terrível quando num casal se estabelece a sensação de esgotamento, explícita na frase: "como te conheço bem!". Que ilusão! Infelizmente este fenômeno recorrente expressa água parada... e a vigilância sanitária alerta: água parada gera bicho!
Mas o fenômeno Elsa & Fred se refere ao oposto desse malogro. Sugere a necessidade humana da invenção, da criação, da necessidade de cavarmos espaços nas nossas relações para que possa surgir o inusitado, o que não imaginamos possível sermos.
Saber dessa necessidade implica na responsabilidade de se implicar nessa rota ou se decidir por ignorá-la. Nesse sentido, a indústria farmacêutica pode ser últil com seus inúmeros placebos que aplacam a dor por ter vislumbrado outra forma de vida.

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