Há algum tempo ouviam aquele barulho vindo do banheiro, um gotejar incessante, daqueles barulhos que, se não se toma cuidado, acaba acostumando os ouvidos. Era só pintar um silêncio mais prolongado que o barulho entrava em evidência.
Outro indicador era a conta da água, cada mês mais alta. Vazamentos não cuidados geram custos desnecessários e permanentes.
Ele tomou a iniciativa para abordar a questão:
_ Tá ouvindo?
_ Tá ouvindo o quê?
_ Esse gotejar que não pára! Barulho irritante!
_ Não tô ouvindo nada...
Ela sustentava a fantasia de que, enquanto não admitisse o barulho frente a ele, pudessem fazer de conta que o mesmo não existia. E estava funcionando bem! Colocavam música, ligavam a TV, permaneciam horas frente ao computador sem que as teclas deixassem de serem apertadas, falavam ao telefone, enfim ia tudo “muito bem”, até ele tocar naquele assunto.
_ Vou chamar um encanador – insistiu ele.
Ela se fingia de morta. Ele acreditava que ela estivesse mesmo, morta.
_ Já sei – disse ele - é só sairmos várias vezes de casa e nunca mais teremos tempo de ouvir o tal barulho.
E assim fizeram. Até começarem a ouvir o gotejar no cinema, no teatro, no barzinho...
Assinar:
Postar comentários (Atom)
Nenhum comentário:
Postar um comentário