11/06/2007

Os Incríveis e a Psicanálise

Li o texto da Maria Helena Fernandes sobre as complicações da mulher moderna na tentativa dos ajustes dos ideais na administração da vida, entitulado "A Mulher- Elástico". Penso que, além dos ideais enaltecidos pela cultura ocidental, tal qual o ideal de corpo magro citado, cada fragmento da cultura – grupos de pertencimento - privilegia alguns aspectos de manifestação ideal. Inevitavelmente assistimos ao filme no final de semana com as crianças e o evento se torna um meio propício pra discussões infindáveis, tal como Maria Helena citou. Sem cair no ridículo do maçante, pra não “matar a obra”, a linguagem dos filmes da Pixar parece evocar estímulos em níveis variados para a conversa em casa.

No filme Os Incríveis, são retratadas as várias crises que podem coabitar uma mesma constelação familiar. Cada um dos personagens foi descrito em sua peculiaridade psíquica e inter-relacional. É interessante observar como se estrutura a corrente com cada um dos elos que compõem essa cadeia familiar. A mudança de um dos membros – O Sr. Incrível – deflagra a necessidade de mudança sentida por todo o grupo. É incrível como tendemos a um estado de morbidez quando nos afastamos do que essencialmente compõe nosso desejo. As relações ficam “gastas”, o cotidiano se revela com peso e o brilho da vida fica confinado à obscuridade, como sinônimo de contravenção.

È interessante notar no filme, que a Mulher-elástico parece ser a primeira a “se adaptar” às solicitações da vida comum – e nem por isso menos importante – do trato com os filhos, da arrumação da casa, da necessidade da receita regular de quem provê o lar, da comida, do carinho, da constância. No entanto, assim que se torna explícita uma nova configuração, lá está ela antenada buscando uma interlocução que a confronte, ilustrada no filme através da intervenção da estilista “bageriana”. Faz as malas, carrega os filhos “sem perceber” a fim de lidar com a nova configuração.

Em posse do lugar elástico que a define, percebe que a autonomia da filha esteve prejudicada uma vez que a menina invisível não se encontrava em posse de suas habilidades, talvez à espera que a mãe retire a “mulher elástico” do armário, em busca de um modelo outro de identificação, que não o “puramente” materno.

É certo, como ressaltou a Maria Helena em seu texto, que a mulher moderna esteja se sentindo perdida em culpa na falta de cumprimento da rota de seus inúmeros anseios e demandas do meio. Mas talvez, por enquanto, ainda não esteja muito clara ao universo cultural masculino, a necessidade de exercitar a flexibilidade em detrimento da força ressaltada em todos os tempos. A mulher moderna deve ter força e flexibilidade, e o homem moderno?
As próximas gerações talvez nos respondam, ou talvez elaborem outras perguntas.

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