24/03/2007

Em mim, ilustre desconhecido

Vivemos num tempo muito confuso. Penso que, se conhecesse um extraterrestre e tivesse que lhe explicar nosso modo de vida, provavelmente me sentiria numa tarefa delicada. Vejamos:

“ Bem vindo, Sr ET, ao nosso humilde planeta. Na verdade não tão humilde... Nem mesmo sei se Planeta por muito tempo. Dispomos de várias formas de vida, mas a classificada como “humana” tem se posicionado como a mais importante. Estamos no topo da cadeia alimentar, ultimamente. Somos predadores de tudo que quisermos. Claro, existem leis que tentam minimizar o risco de agirmos somente por impulso, mas é frequente não atentarmos muito a esses detalhes. Tanto que nossos recursos naturais estão bem mais escassos que noutros tempos. Mas calma, estamos evoluindo deveras cientificamente, o que significa que, em breve, poderemos criar qualquer forma de vida que precisarmos, se “acaso” estiver extinta na natureza.
Nosso desenvolvimento é bastante complexo: nascemos, regularmente, em grupos que nomeamos como família. Neste aspecto evoluímos um tanto, pois antigamente esta primeira célula social deveria, necessariamente, ser composta por um pai e uma mãe, sendo que o gênero da espécie deveria corresponder à função parental. Ganhamos um nome que já vem com uma história que ficará grudada em nosso psiquismo, com direito (ou dever) a ser continuado nas próximas gerações. Herdamos também desejos não realizados de nossos cuidadores primeiros. Este aspecto nos dá muito trabalho, pois ao longo de nossas vidas, quando tudo vai bem, desenvolvemos desejos próprios que se conflitam com os que nos foram atribuídos. Até aí, você pode dizer que a solução é fácil: é só separar o joio do trigo e cada qual que fique com o seu próprio desejo. Mas... Meu caro, as coisas não são tão simples. Os desejos mais contundentes nos são transmitidos de maneira velada. Isso mesmo, tipo propaganda subliminar. Daí que, corremos o risco de passar a vida inteira nos debatendo com idéias das quais só conhecemos, quando muito, o rastro.
Para camuflar esse caos, nos convencemos que a angústia produzida no hiato entre o meu desejo e o do outro - que quer se realizar através do que deveria ser minha vida – pode ser ludibriada com brinquedinhos amplamente difundidos através de marketing. Confesso que alguns deles bem que nos fazem felizes por um certo tempo, até a tal da angústia voltar e retomarmos o caminho do supermercado ou do shopping para tamponá-la novamente.
Mas nem tudo é sofrimento. Existem outros caminhos, como por exemplo, adeptos de realizações artísticas. Esses me dão uma inveja danada porque passam boa parte do tempo elaborando códigos simbólicos decodificantes das sensações e sentimentos que nos arrebatam. Ou que deveriam porque, do contrário, fica impossível construirmos “sentido” para levantarmos da cama diariamente.
Como?
Quer conhecer?
Tem um bar de jazz aqui perto e...”

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