23/03/2007

Depois dos 30....



Balzac disse que é só depois dos 30 que o que há de mais genuíno numa expressão se acentua.

Já não há mais, depois dos 30, o imediatismo ou a urgência. A tolerância se atrela a um tempo preciso, embora difícil, de espera.

Depois dos 30 a cebola não mais provoca o choro, lágrimas são comedidas mas concentradas.

Talvez bem depois dos 30, arriscar se torna esporádico, mas quando acontece não há arrependimento.

Depois dos 30, muito barulho dá sono e pouco movimento solicita legenda.

Por volta dos 30 as metamorfoses não são visíveis a olho nu, o que se vê é o tempo marcado... mas é preciso perguntar para saber o que significa cada marca.

É só depois dos 30 que se pode contemplar um fenômeno inominável até que ele atinja um grau de metabolismo simbólico, ou não...

Depois dos 30 o dia tem 24 horas, não mais 48 ou 12.


Transcorridas 3 décadas, com a lógica tentando decifrar pathos, percebe-se que as coisas têm permanência desvinculadas de suas funções e pessoas não são o que pensam ser.

Depois dos 30 uma leve melancolia se infiltra no ânimo. Humores refinados preferem ironia; sarcasmo é recurso de gente mais nova.

Depois dos 30 jornadas heróicas viram lendas. O romantismo se reveste de parcimônia e só se despe quando não está só.

Passados 30 anos de gostos e desgostos, o paladar diferencia com astúcia um alimento do fast-food e um doce feito no fogão a lenha. Já se sabe que o doce pode levar um tempo considerável para apurar, mas não se engole tão fácil quando o fogo apaga.

Aos 30 escolhas são diárias: perde-se pelo que não é, ganha-se pelo que se tornou por não saber quem será...

Passadas 3 décadas sabemos, simplesmente sabemos, que bons encontros são possíveis, mas excelentes trocas são raras. O mundo finalmente não é tão grande como se pensa aos 20.

Depois dos 30 descobre-se que partilhar loucuras é bem melhor que “viajar sozinho”. Submissão e flexibilidade são definitivamente distintas.

Se antes dos 30 o outro é estruturante, depois dos 30 o outro é fundamental.

Depois dos 30 o tempo contempla espaços espirais e por isso já se sabe que passar pelo mesmo ponto não representa estar no mesmo lugar.

Depois dos 30 a vida pode ser arte: mais cinema, menos novela; se fotografia for, o relevante visualiza-se no negativo.

O novelo tornado tecido toma forma depois dos 30. Já se pode (deve?!) vestir a própria camisa.

2 comentários:

maxakali disse...

TE AMO! E vou gritar pra todo mundo ouvir!
Roupa Nova. Sapato Velho. Noite que nao pára de crescer, me dá um Tempo pra eu Ser. Espera um pouco sono, me dá um Tempo pra eu Ser. Friu nós pés. Calor no peito. O cao ladra a noite em busca do Sol.

Elaine disse...
Este comentário foi removido pelo autor.