30/09/2007

Extra!




Chico Buarque dispensa apresentação, certo? Errado! Há anos ouço suas músicas e quando alguém me pergunta: "conhece aquela?" é comum eu já responder cantando, do tipo: "claro que conheço!" No entanto, essa semana ouvi "Terezinha" como nunca antes. Sou encantada pelo modo que ele descreve três impactos diferentes de enamoramento na canção. A melodia me remete inevitavelmente à infância, momentos dos primeiros amorores e rancores de minha vida. Então, acreditava conhecer a música Terezinha de trás pra frente, mas.... a vida é mesmo uma caixinha de surpresas...
Enquanto desempenhava meu lado "jarbas" no volante, o Chico cantava no carro. De repente, entrou a faixa "Terezinha" do cd e qual não foi minha surpresa ao me flagrar prestando mais atenção à melodia e entrada dos instrumentos musicais. Impressionante!! O "primeiro" chega à "Terezinha" ao som de violão apenas; ao entrar "o segundo" parceiro da Terezinha, o violão de antes passa a ser acompanhado por um piano; mas é somente no "terceiro" que o sopro de vida da flauta se junta aos outros dois intrumentos para finalizar a contento o enredo. Fiquei passada com a nova "Terezinha" que ouvia no velho cd. Sem esforço nem concentração mas simplesmente o surgimento do novo no velho...

24/09/2007

lunático

Mr.Moon era um homem enigmático. Vezes agregava gente. Cultivadas, nem sempre as mantinha. Não era de fácil abordagem. Na fala anunciava abruptamente recônditos semelhantes ao quarto escuro do Barba-Azul. Nichos fecundos. Guardado em si... Era de várias facetas: ora pleno, brilhante, marcante... ora surpreendente, novo, criativo... Noutras expansivo, emitindo flashs para todas as direções...Também resguardado, minguado, de difícil acesso...Era isso! Mr. Moon era um lunático! E como tal seu humor oscilava e se manifestava conforme as irradiações de seu satélite natal. Porém o que poucos sabiam, é que ainda assim, era ele a chama clara que iluminava e norteava o caminho dos errantes sob o escuro manto da noite.

23/09/2007

Drummond

GUSTAV KLIMT


"O problema não é inventar. É ser inventado hora após hora e nunca ficar pronta nossa edição convincente."

fronteira



"Se é exatamente na fronteira do não-eu que se percebe o eu, por que não seria na fronteira da não-vida a descoberta da vida?"

(por Ivan Hegenberg)

09/09/2007

des-peço-te!

Meu querido,

Escrevo esta carta numa tentativa de me despedir de você, mais uma vez... estamos juntos há muito tempo, você acompanhou bem de perto vários momentos diferentes na minha história... me viu crescer e sempre esteve à mão nas circunstâncias mais difíceis e nas mais felizes também.
Através de você, conheci muita gente interessante... sua simples presença abria caminhos para assuntos variados.
Nos separamos algumas vezes e sempre era "pra sempre", mas então... você voltava pra perto, como se nada quisesse, me prometendo momentos de raro prazer. E eu sempre fantasiava não depender de você.
Era ótimo ter você por perto depois das refeições... vc deixava qualquer degustação completa, mesmo quando a comida não era lá grande coisa.
Desculpe-me por não tê-lo deixado entrar no meu quarto... somente em outros quartos nossa intimidade esteve assegurada.
Mas, temos que admitir que nem tudo é eterno. Você tem me deixado sem fôlego e seu aroma não mais me seduz como antes. O gosto que vc me deixa na boca me incomoda... tua presença me impregna!
Não sou mais aquela mocinha inocente que você conquistou. A idade trouxe a maturidade e a vontade de viver por mais tempo. É chegada a hora de nos despedirmos eternamente! Cá dentro, você deixou marcas irreparáveis talvez. Não mais te procurarei e farei de conta que não te vejo, mesmo quando sentir imensamente a sua falta!!!
Adeus Free maço! Adeus Free Box!

06/09/2007

frestas do Poeta

"O que quer uma mulher?"
É uma das perguntas que Freud se fez, que Lacan se debruçou, que Serge André dissecou, mas foi Chico Buarque quem descreveu o mais genuíno impacto dessa indagação na subjetividade de um menino.

"Você, você - Uma canção edipiana" (Guinga / Chico Buarque)

Que roupa você veste, que anéis?
Por quem você se troca?
Que bicho feroz são seus cabelos
Que à noite você solta?
De que é que você brinca?
Que horas você volta?
Seu beijo nos meus olhos, seus pés
Que o chão sequer não tocam
A seda a roçar no quarto escuro
E a réstia sob a porta

Onde é que você some?
Que horas você volta?
Quem é essa voz?
Que assombração
Seu corpo carrega?
Terá um capuz?
Será o ladrão?
Que horas você chega?
Me sopre novamente as canções
Com que você me engana
Que blusa você, com o seu cheiro
Deixou na minha cama?
Você quando não dorme
Quem é que você chama?
Pra quem você tem olhos azuis
E com as manhãs remoça?
E à noite pra quem
Você é uma luz
Debaixo da porta?
No sonho de quem
Você vai e vem
Com os cabelos
Que você solta?
Que horas, me diga,
que horas, me diga
Que horas você volta?