25/10/2007
Des-conto
Olhou-a. Desejou-a. Aproximou-se.
Ela o via vagamente familiar e interessante.
Falaram de tudo um pouco, dizendo-se mutuamente.
O rumo da história se encarregou dos rompantes.
Ela: tempo sacro.
Ele: tempo inexistente: Mata-Dor.
Tentou matá-la no ato: futuro ausente.
Ela se fez presente.
Despediram-se a tempo de manterem-se
tal como antes do encontro.
Triunfo do passado dormente.
22/10/2007
aportar...
Subiu as escadas escuras daquele prédio cheio de esquinas. Não sabia ao certo qual o andar, tão pouco qual o lugar. Mas seguiu. Parou em frente a uma porta. Desconhecia a maneira como se deu essa escolha; algo nela sabia que era aquela a passagem. Tentou a entrada girando a maçaneta. Estava trancada. Bateu. Bateu mais forte. Nada. Bateu até sentir que os punhos lhe doíam e as unhas já marcavam a carne, de certa forma. Uma voz, lá de dentro, disse: Está aberta, entre. Girou a maçaneta novamente; nada. Bateu novamente. A mesma voz, um tanto irritadiça, respondeu: Já disse que está aberta, entre! Tentou. Nada. Um tanto confusa, sem saber em qual verdade se pautar, se na versão da voz de dentro ou na realidade vivenciada com dificuldade, parou um tanto seus movimentos. Insistir se traduziria na crença de que poderia abrir uma porta que não abriu anteriormente. Insano, pensou. Desistir não lhe era concedido. Estava fadada a tentar. Resolveu procurar um meio, uma chave, talvez alguma dos chaveiros antigos que carregava junto a si. Fez uma prévia seleção pela forma, analisou espessura e história. Tentou várias até que uma delas entrou. Mas não girou. Se forçasse não adiantaria. A chave se partiria, inutilizando a abertura - uma minúscula fenda que interligava dois mundos. Procurou outras chaves em sua bolsa. Nenhuma parecia se encaixar à necessidade. Encontrou num grampo, perdido num fundo falso da bolsa, o pensamento mágico da transmutação. Lembrou dos filmes em preto e branco da infância e da promessa de saída com final feliz. A porta lhe era familiar, mas seu colorido, estranho. O grampo não serviria. Tinha conhecimento que finais felizes não existiam: O final é a Morte, inexoravelmente. Sabia que felicidade se constitui no hiato entre o medo do nascimento de algo e seu término trágico.
Do grampo, passou à tampa da caneta. Entortou a tampa, a caneta e a escrita; e nesse instante pensou vislumbrar uma luminosidade diferente no interior do recinto vedado pela porta que se mantinha, hermeticamente, fechada. Estava a ponto de desistir. Cansada... A Voz de dentro pareceu notar o intervalo expandido nas tentativas e questionou: E aí, desistiu? Nesse ponto, a confusão era tamanha que não havia possibilidade de ouvir essa fala sem um viés irônico. Uma pergunta genuína parecia um deboche. Brigou com a voz. A voz se posicionou: Sei que é possível abrir, com quê recurso, não sei. Você tentará inúmeras vezes, fará do engano o mote que desvela sua pretensa vigília. Adormecerá estranha para acordar diferente em alguns momentos.
Como num corte de tempo, de repente se deu conta da existência de outras pessoas circulando pelo corredor daquele edifício. Há quanto tempo estariam estas pessoas ao redor, sem que nunca as tivesse notado? Decidiu-se por interpelar um dos transeuntes a fim de auxiliá-la. O primeiro garantiu: Tenho a chave... Era um homem que emanava convicção e profundo conhecimento de fendas e seus derivados. O contato lhe possibilitou pensar no outro com sua porta, descobertas e entraves. Desfrutou de sua presença, até perceber que essa união só se manteria se desistisse de lembrar de sua própria porta. Com muita dor, cônscia da solidão que se instalaria, pediu ao ilustre transeunte que se afastasse.
Outros vieram e, no contato, tentava identificar o que importa... Ficar junto a algumas daquelas figuras, era, por vezes, gratificante. Regularmente escutava rumores do recinto contíguo separado pela porta. Percebeu que o outro é parte da chave. Tratou de se olhar com crítica, mas com uma certa tolerância e compaixão.
Então houve um que não a inquiriu, nem julgou e nada lhe prometeu, mas a ela devotou o espelho da alma que atrela dois seres pela supremacia de suas diferenças; abriu o campo da fala da falta confessa em cada um, realizando o prazer do encontro na troca. Cada ínfimo detalhe parecia apontar para o contrário de tudo que pensara sobre si e nesse instante, como por mágica, a Porta se abriu.
Do grampo, passou à tampa da caneta. Entortou a tampa, a caneta e a escrita; e nesse instante pensou vislumbrar uma luminosidade diferente no interior do recinto vedado pela porta que se mantinha, hermeticamente, fechada. Estava a ponto de desistir. Cansada... A Voz de dentro pareceu notar o intervalo expandido nas tentativas e questionou: E aí, desistiu? Nesse ponto, a confusão era tamanha que não havia possibilidade de ouvir essa fala sem um viés irônico. Uma pergunta genuína parecia um deboche. Brigou com a voz. A voz se posicionou: Sei que é possível abrir, com quê recurso, não sei. Você tentará inúmeras vezes, fará do engano o mote que desvela sua pretensa vigília. Adormecerá estranha para acordar diferente em alguns momentos.
Como num corte de tempo, de repente se deu conta da existência de outras pessoas circulando pelo corredor daquele edifício. Há quanto tempo estariam estas pessoas ao redor, sem que nunca as tivesse notado? Decidiu-se por interpelar um dos transeuntes a fim de auxiliá-la. O primeiro garantiu: Tenho a chave... Era um homem que emanava convicção e profundo conhecimento de fendas e seus derivados. O contato lhe possibilitou pensar no outro com sua porta, descobertas e entraves. Desfrutou de sua presença, até perceber que essa união só se manteria se desistisse de lembrar de sua própria porta. Com muita dor, cônscia da solidão que se instalaria, pediu ao ilustre transeunte que se afastasse.
Outros vieram e, no contato, tentava identificar o que importa... Ficar junto a algumas daquelas figuras, era, por vezes, gratificante. Regularmente escutava rumores do recinto contíguo separado pela porta. Percebeu que o outro é parte da chave. Tratou de se olhar com crítica, mas com uma certa tolerância e compaixão.
Então houve um que não a inquiriu, nem julgou e nada lhe prometeu, mas a ela devotou o espelho da alma que atrela dois seres pela supremacia de suas diferenças; abriu o campo da fala da falta confessa em cada um, realizando o prazer do encontro na troca. Cada ínfimo detalhe parecia apontar para o contrário de tudo que pensara sobre si e nesse instante, como por mágica, a Porta se abriu.
20/10/2007
ciclo
serviu-se do vinho
sentiu-lhe o rosto
deu-lhe uma das faces
retirou-se em repouso
retornou exposto
mostrou-se outro
propôs impace
voltou sozinho
09/10/2007
08/10/2007
Todo dia
Nunca renegue a melodia
Mesmo quando o dia
dela se esquece
Noite a noite
Sente em frente
Noite a noite
Sente em frente
olhe no olho
Não se apresse
Não finja gozo
Não forje um gosto
na pressa para que
Não se apresse
Não finja gozo
Não forje um gosto
na pressa para que
o coração se aqueça
Respeite contornos
Descubra atalhos
Poupe latim
Canalize saliva
se o ato te pede
suspiro e carícias
Cative espaços
Avance sinais
Conheça seu lastro
Aporte noutro cais
Respeite contornos
Descubra atalhos
Poupe latim
Canalize saliva
se o ato te pede
suspiro e carícias
Cative espaços
Avance sinais
Conheça seu lastro
Aporte noutro cais
07/10/2007
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